SETOR AUTOMOTIVO E O ÊXODO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

A saída de montadoras como Ford e as dificuldades da Nissan destacam a pressão da carga tributária e da concorrência global. Para 2025, a Anfavea projeta um crescimento de 5,8% nos emplacamentos, alcançando 2,6 milhões de unidades, mas alerta para os impactos de juros altos e importações chinesas. Para leitores americanos, o Brasil serve como um alerta sobre o peso de sistemas fiscais ineficientes; para brasileiros, é um chamado à ação por uma gestão pública mais eficaz.

Marcello D'Victor

7/26/20256 min read

Em 2025, o setor automotivo brasileiro exibe um contraste marcante entre crescimento robusto e desafios estruturais. Com 2,65 milhões de veículos emplacados em 2024, um aumento de 15% em relação a 2023, o Brasil liderou o crescimento global, superando mercados como Estados Unidos, Alemanha e China, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A produção alcançou 2,54 milhões de unidades, recuperando a oitava posição no ranking mundial de fabricantes. No entanto, a carga tributária, que consome até 55% do preço de um veículo, e a complexidade da gestão pública continuam a sufocar consumidores e a indústria, contribuindo para o fechamento de fábricas de montadoras como Ford, Mercedes-Benz e outras. Esta coluna detalha o impacto da tributação no Brasil, compara o cenário com mercados globais mais acessíveis e analisa como o peso fiscal e a gestão pública ineficiente levaram ao êxodo de fabricantes, com foco em casos recentes. Para leitores brasileiros e americanos, esta análise oferece uma visão crítica e inspiradora do setor automotivo.

O Setor Automotivo Brasileiro: Crescimento Sob o Peso dos Impostos

O setor automotivo é um pilar da economia brasileira, empregando 1,3 milhão de pessoas e representando cerca de 25% do PIB industrial, conforme a Anfavea. Em 2024, o mercado registrou um recorde histórico, com 14,2 milhões de veículos novos e usados comercializados, impulsionado por R$180 bilhões em investimentos, o maior ciclo da história. O programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação), lançado em 2023, destinou R$19,3 bilhões até 2028 para incentivar a produção de veículos sustentáveis. A iniciativa “Carro Sustentável” zerou o IPI para modelos compactos produzidos localmente que atendem a critérios de eficiência energética, beneficiando 60% dos veículos emplacados em 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Apesar desse dinamismo, a carga tributária é um entrave colossal. Impostos como ICMS (18% em São Paulo para veículos novos), IPI, PIS, COFINS e o anual IPVA podem representar de 30% a 55% do preço de um carro. Para importados, o Imposto de Importação eleva esse percentual a até 79%, conforme a Rodobens. Um Fiat Mobi, modelo de entrada, custa cerca de R$70.000 em 2025, com impostos respondendo por quase metade. Em 2017, o “Dia Livre de Impostos” mostrou que um carro de R$52.290 caía para R$37.319 sem tributos, evidenciando um peso fiscal de 28%. O consultor automotivo André Pagliarini destaca: “A tributação em cascata, onde impostos incidem sobre impostos, encarece o produto final e penaliza o consumidor”. Além disso, o “Lucro Brasil” – margens de lucro elevadas de fabricantes e concessionárias – agrava o cenário. Um Honda Civic, em 2016, custava R$56.210 no Brasil, com R$15.518 a mais em lucro que sua versão mexicana, segundo a Anfavea.

Fechamentos de Fábricas: O Custo da Tributação e Gestão Pública Ineficiente

A carga tributária e a complexidade da gestão pública têm levado ao fechamento de fábricas no Brasil. A Ford anunciou sua saída da produção local em 2021, fechando unidades em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE), com a perda de 5.000 empregos diretos, conforme a Synchro. A empresa citou custos operacionais elevados, agravados pela tributação e pela baixa competitividade frente a importações. A Mercedes-Benz encerrou sua fábrica de automóveis em Iracemápolis (SP) em 2020, apontando custos altos e mercado instável. A Audi suspendeu a produção em São José dos Pinhais (PR) no mesmo ano, enquanto a Nissan, embora mantenha sua fábrica em Resende (RJ), enfrenta dificuldades com apenas 2% do mercado em 2024, segundo a Fenabrave. Rumores sobre o fechamento da unidade da Nissan no Brasil em 2025 foram desmentidos pela @AfpChecamos no X, mas a empresa anunciou o encerramento de sua fábrica de 60 anos em Oppama, Japão, com 2.400 demissões, refletindo pressões globais.

Outras montadoras também reduziram operações. A Chevrolet, parte da General Motors, ajustou sua produção em São Caetano do Sul (SP) em 2023, enquanto a Hyundai enfrenta margens reduzidas em Piracicaba (SP). A concorrência de marcas chinesas, como BYD e GWM, que importaram 165.000 unidades em 2024 (crescimento de 415% ante 2023), intensifica a pressão, segundo a Anfavea. Márcio de Lima Leite, presidente da entidade, alerta: “A tributação elevada e a logística complexa tornam o Brasil menos competitivo, afastando investimentos de longo prazo”. A saída dessas empresas reflete um ambiente onde custos fiscais e operacionais superam os benefícios de operar localmente.

Comparação Global: Acessibilidade em Outros Mercados

O contraste com mercados globais é gritante. Nos Estados Unidos, a carga tributária média sobre veículos é de 7,5%, com estados como a Califórnia chegando a 10%. Um Toyota Corolla 2025, vendido por cerca de US$22.000 (R$123.000, ao câmbio de julho de 2025), custa quase o dobro no Brasil devido a impostos e margens. No Japão, os impostos são de apenas 5%, enquanto na Alemanha e na Itália, chegam a 19% e 22%, respectivamente. Na América Latina, Argentina (21%) e México (16%) oferecem condições mais favoráveis. Um usuário no X, @Zeitgeist_Iam, resumiu: “No Brasil, o governo cobra quase metade do valor do carro em impostos. Nos EUA, o custo tributário é bem menor, tornando o carro acessível até para trabalhadores comuns”.

O financiamento também amplifica a disparidade. Nos EUA, taxas de juros para financiamentos automotivos estão entre 4-6% em 2025, enquanto no Brasil, a Selic atingiu 13,75% em 2024 e pode chegar a 14,5% em 2025, segundo a Anfavea. Um trabalhador americano com renda média de US$40.000 anuais pode comprar um carro novo com facilidade, enquanto no Brasil, com um salário mínimo de R$1.640 mensais (cerca de US$3.500 anuais), um Fiat Mobi exige anos de poupança ou financiamentos onerosos. O México, beneficiado por acordos como o USMCA, exportou 4,3 milhões de veículos em 2024, superando o Brasil, que exportou apenas 403.000 unidades contra 463.000 importadas.

Gestão Pública: Esforços e Limitações

A gestão pública brasileira tem tentado mitigar os desafios com incentivos, mas os resultados são insuficientes. O programa MOVER e o “Carro Sustentável” buscam promover a sustentabilidade, reduzindo o IPI para veículos eficientes. Estados como Mato Grosso cortaram o IPVA em 2,68% em 2024, e isenções para pessoas com deficiência (Lei nº 8.989/1995) aliviaram custos para alguns consumidores. No entanto, a falta de uma reforma tributária abrangente mantém o sistema fragmentado. O economista Roberto Campos Neto observa: “A tributação em cascata encarece a produção e o consumo, limitando o acesso à mobilidade”. A complexidade burocrática e a instabilidade fiscal também desencorajam investimentos, como evidenciado pela saída da Ford e pela redução de operações de outras montadoras.

Globalmente, países como México e Coreia do Sul oferecem incentivos fiscais robustos, como isenções para veículos elétricos e subsídios para produção local, atraindo montadoras como Tesla e Hyundai. No Brasil, a burocracia e a alta carga tributária dificultam a competitividade. A KPMG destaca que “a transição para veículos elétricos exige políticas públicas consistentes, algo que o Brasil ainda não entrega plenamente”.

Um Futuro de Desafios e Oportunidades

O setor automotivo brasileiro tem potencial, mas enfrenta um cenário crítico. A saída de montadoras como Ford, Mercedes-Benz e a redução de operações da Audi e outras refletem o impacto da carga tributária e da gestão pública ineficiente. Para 2025, a Anfavea projeta um crescimento de 5,8% nos emplacamentos, alcançando 2,6 milhões de unidades, mas alerta para os desafios de juros altos e importações chinesas. Para leitores americanos, o Brasil é um exemplo do impacto de sistemas fiscais complexos; para brasileiros, é um chamado por mudanças estruturais.

A solução exige uma reforma tributária que simplifique a carga fiscal e incentive a produção local, além de políticas públicas que atraiam investimentos em tecnologias verdes. Como sugere Pagliarini, “o Brasil precisa equilibrar competitividade global com proteção ao consumidor”. Enquanto os impostos transformarem carros em artigos de luxo, o setor automotivo brasileiro continuará a perder montadoras e o sonho da mobilidade permanecerá distante para muitos.